sexta-feira, 2 de maio de 2008

Homeopatia ou a Banha da Cobra

Há pouco tempo deparei-me com um post no blog De Rerum Natura sobre a homeopatia e as pseudo-ciências. Sendo este um tema que me toca especialmente, pois para além de ser investigador tenho um especial interesse no ensino, na divulgação científica e na opinião pública da ciência, fui informar-me acerca deste movimento em Portugal.
Ao efectuar uma pesquisa na internet dei de caras com duas associações portuguesas de homeopatia, a sociedade homeopática de portugal e a associação portuguesa de homeopatia. Após uma vistoria geral dos sites encontrei algumas zonas que faziam ligação para artigos sobre a homeopatia, e como esperava, em nenhum deles se encontram referências a artigos publicados em revistas com "peer review" (ou revisão por pares). Daqui se depreende que estas práticas holísticas de medicina alternativa não têm nenhum fundo científico e que as tentativas dos seus praticantes de utilizar discurso pseudo-científico na apresentação do método ao público, descambam num discurso vazio de conteúdo mas que se agarra ao sucesso do método científico, que tem sido provado vezes sem conta nos últimos 300 anos. Para os leigos em ciência deve ser complicado distinguir um discurso verdadeiramente científico de um discurso em que o uso de jargão científico se sobrepõe à objectividade da ideia apresentada, e estes vendedores da banha da cobra utilizam essa arma eficazmente.
É portanto imperativo que os bons cientistas aprendam a comunicar a ciência que fazem, para que a opinião pública perceba a diferença entre o método científico e os métodos empregues pela auto-denominada "ciência alternativa".
Para quem não sabe o que é a homeopatia vou tentar explicar rapidamente. A homeopatia baseia-se em dois postulados, sendo um deles o princípio dos similares (podemos curar uma doença com um produto que crie os mesmos sintomas da doença). A melhor explicação para este postulado que eu já vi é a de que todos "vibramos" com certas frequências e que a doença tem uma frequência de vibração própria e se o medicamento ingerido tiver a mesma frequência podemos, através da interferência destrutiva entre as duas vibrações, anular a sua vibração. O que eles não dizem é como é que se garante que as vibrações vão estar em anti-fase pois se estiverem em fase, em vez se o efeito diminuir é aumentado.
O outro postulado é que quanto mais diluído o produto estiver, mais forte é o efeito.
A maior parte dos medicamentos homeopáticos à venda nos estados unidos é rotulada de 30C o que quer dizer que foi diluída 30 vezes segundo o seguinte processo: primeiro dilui-se uma gota da substância que crie os mesmo sintomas da doença que se quer curar em 99 gotas de água e agita-se energicamente, depois pega-se numa gota dessa solução e dilui-se em 99 gotas de água, e assim sucessivamente até chegar às 30 diluições. Ora, isto é equivalente a uma diluição de uma parte do ingrediente activo em 100^30 (equivalente a 10^60 ou seja 1 seguído de 60 zeros) partes de água. Ou seja, a probabilidade de que encontremos uma única molécula do ingrediente activo na solução final é 10^-60 (0, ...sessenta zeros... 1), o que é bastante pequena não concordam?
Visto que nem os homeopatas conseguíram fechar os olhos a esta incongruência monumental, lá tiveram que escavar mais fundo esse buraco de pseudo-ciência em que se encontram e sugeriram a brilhante ideia de que a água terá uma "memória" das moléculas com que esteve em contacto. Se assim fosse, não seria o efeito das impurezas com que a água esteve em contacto desde o início dos tempos, um factor a ser levado em conta? Não sei como podem os homeopatas viver com o conhecimento de que cada vez que puxam o autoclismo estão a inserir ingredientes activos em todos os medicamentos que irão fazer futuramente.

Deixo-vos com um vídeo muito engraçado sobre os inimigos da razão, um programa do afamado bloguista e biólogo Richard Dawkins e, para não ser acusado de imparcialidade, deixo-vos com outro vídeo da "Dr" Charlene Werner que pelos vistos é doutorada pela "universidade" americana que tem o nome de International Quantum University for Integrative Medicine, que é mais um verdadeiro exemplo do poder que a pseudo-ciência tem vindo a ganhar nos últimos anos.




2 comentários:

Vasco Gaspar disse...

Muito bem apanhado!

Gosto muito da maioria das medicinas alternativas e já senti alguns efeitos práticos da Naturopatia.

Agora a Homeopatia... Concordo plenamente contigo! Acho que é mesmo uma grande banha da cobra.

Eles lá dizem que aquilo entra na dimensão da física quântica e é por isso que é dificil comprovar cientificamente.

Tá bem, tá...

Nabla disse...

Realmente percebo que seja difícil provar cientificamente quando não se percebe nada de ciência.
De qualquer modo uma das coisas que eles podem argumentar é que há casos em que funciona, o que se esquecem de dizer é que todos os estudos feitos (em colaboração com homeopatas) mostram que o efeito é da mesma ordem e apresenta resultados idênticos aos estudos feitos sobre o efeito placebo.
O que me chateia é o facto de tentarem utilizar o rótulo da "comprovação científica" para venderem o seu produto, porque se há pessoas que querem arriscar a sua vida a tomar água para curar gripes isso é lá com elas. O que eu não quero é que fiquem com uma ideia errada do que é a ciência e do que é o método científico.